Integração além das montanhas de Minas
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Isabel Meirelles Rezende - Belo Horizonte MG |
Motociclista desde os 19 anos, Isabel Meirelles Rezende, de 54, acabou de ter a moto Honda Falcon 400cc roubada num estacionamento da Avenida Cristiano Machado. O aborrecimento só não foi maior porque em casa também tem uma Harley Davidson 1.200, com a qual tem viajado pelo Brasil. O último passeio foi para Florianópolis, em Santa Catarina. Isabel não tem carro por opção. Procura manter sempre duas motos. Uma para passeio e outra para a cidade. A professora de história, além de participar do grupo Mulheres Motociclistas, faz parte do motoclube Medusas, com 26 integrantes além das montanhas de Minas.
“Uma paixão sem razão”. Assim, a bela Fabíola Evelyn, de 31, define seu amor pelas motocicletas. Dona de uma Harley de 1.600 cc e 310 quilos, a policial civil faz duras críticas ao motorista brasileiro, especialmente o de Belo Horizonte, cidade que ela conhece muito bem. “Muitos não aceitam a gente pilotando corretamente atrás dos carros. Eles jogam a gente para os corredores. É muita maldade. A palavra é essa: maldade.” Para Fabíola, corredor é apenas para o trânsito parado. A policial vê o motorista como “egoísta”, preocupado apenas com o próprio umbigo. Fabíola é outra motociclista, dama de cuidados e responsabilidade, que não acredita no ensino das autoescolas. Ela revela que, consciente, logo que conseguiu sua habilitação, aos 25 anos, passou duas semanas pilotando na companhia de amigos experientes para ganhar segurança. Integrante do grupo Diablos, a policial sugere reforço em matéria de cidadania nas escolas. “A questão passa pela educação. Em muitas autoescolas, por exemplo, os instrutores não estão preparados para ensinar”, critica.
ANTIQUADOS
A empresária Ana Paula Moura, de 48, concorda com Fabíola em relação à falta de educação no trânsito. “O problema é o mineiro. Ele é tão antiquado que, quando é ultrapassado por uma mulher, acelera, incrédulo, só para conferir se foi ultrapassado por uma mulher mesmo. Os motoboys são ainda piores”, considera. Há um ano sobre uma BMW GS 650, Ana Paula diz que o amor pela velocidade está no sangue. Filha e neta de motoqueiras, a empresária lamenta a fama de irresponsabilidade que a estupidez de muitos acaba promovendo.
Uma filosofia de vida
É uma mulher a presidente do Aguias de Aço em Minas Gerais. Desde 1980, o grupo reúne 70 motociclistas e é muito respeitado em todo o Brasil. Jacqueline Lipovetsky, de 50, é filha do lendário Capitão Senra, motociclista até hoje na ativa, que já rodou meio mundo pilotando. Quando ganhou seu primeiro ciclomotor, sem dar conta de tamanha euforia, a bióloga rodou 80 quilômetros num único quarteirão. Hoje, emociona-se ao falar do sonho motorizado herdado do pai, seu ídolo maior, fundador do Águias de Aço. Jacqueline, com a autoridade de quem vive o assunto desde criança, lamenta o uso indevido e irresponsável das motocicletas no Brasil. “Quem não conhece o nosso jeito de pilotar pensa que somos todos iguais. O motoqueiro criou um estigma para o motociclista. Tenho medo dos motoboys. Esta semana mesmo um deles chutou o retrovisor do meu carro.” A bióloga defende penas maiores para os infratores no trânsito.
Longe da estupidez, na mesma rede social, Júnia Baroni Rainato, de 50, ainda comemora o sonho realizado há dois anos, quando entrou para o seleto grupo das motociclistas. “Um sonho de liberdade. Uma família”, ressalta. Renata Perigolo Guerra, de 33, vê na paixão pelas motocicletas um forte laço de união com o marido, Marcelo Penna Guerra. A engenheira e o economista, parceiros dos “melhores passeios”, estão ainda mais próximos por meio das motocas. “De início, em Belo Horizonte, queria uma moto para trabalhar. É gostoso, barato, rápido e prático. Comecei com uma scooter. Hoje, com nossas Harleys, descobrimos um outro lado, em grupos, com amizades sólidas e muito bonitas”, comenta. É uma grande família, segundo Renata, unida por duas rodas e um sonho de liberdade.
Fonte: Estado de Minas